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Amamentar

Vamos falar sobre amamentação. É um tema que me é caro. Sou aquilo a que se chama uma “Conselheira em Aleitamento Materno” e mãe de dois filhos amamentados. Não sou fundamentalista nem quero generalizar algumas práticas a todos os profissionais de saúde, até porque a minha experiência é positiva, mas defendo o aleitamento materno. Escusado será voltar a referir os inúmeros benefícios para a mãe e principalmente para o bebé. A ciência tem evoluído nesta matéria e hoje já existem vários tratamentos à base de leite materno, mesmo em adultos. Hoje, sinto necessidade de clarificar algumas questões da amamentação. Acima de tudo, afirmar que não é um processo fácil e que a decisão deve ser da mulher e que ninguém tem nada com isso. A mulher deve ser apoiada nesta fase a todos os níveis e por toda a gente para poder decidir se quer ou não amamentar. É comum vermos o pessoal de enfermagem nas maternidades a oferecer mono doses de leite artificial, antes de ajudarem a mulher a amamentar. À primeira dificuldade oferecem um substituto ao leite materno. Mulheres pouco informadas ou mesmo mal informadas, acabam em alguns casos por ceder. Vamos então tentar esclarecer por pontos.
peso com que o bebé nasce é muitas vezes influenciado por vários factores, nomeadamente o número de horas que a mulher esteve a soro durante o trabalho de parto. Portanto, não há que stressar logo à partida se a criança mama, molha e suja a fralda e aumenta de peso. Um bebé pode demorar cerca de 15 dias a recuperar esse peso e isso não deve à partir ser motivo para introduzir leite artificial.
contacto pele com pele é MUITO importante para o vínculo do bebé com a mãe, mas também para iniciar a amamentação. O bebé pode esperar algum tempo sem mamar, não é necessário dar logo leite artificial se por algum motivo a mãe tiver de ficar afastada do bebé (por exemplo, por procedimentos médicos).
Quem quer amamentar em exclusivo até aos seis meses (sendo esta a recomendação da Organização Mundial de Saúde) não precisa dar mais nada ao bebé. Está calor? Dá mama. Tem fome? Dá mama. Não precisa dar água, ao contrário do que alguns profissionais de saúde dizem às mães. O leite materno tem tudo o que o bebé precisa. Aliás se der água ao seu bebé, ele vai pensar que está saciado e não vai mamar.
O eterno mito das horas certas para mamar. As “três em três horas”, ou lá o que for. Um bebé amamentado não tem horas para mamar. Deve fazê-lo em livre demanda. E livre demanda quer dizer: sempre que o bebé quiser. Seja de meia em meia hora, seja de quatro em quatro horas (emboras os bebés pequeninos não devam passar muitas horas sem mamar). Os bebés alimentados com leite artificial é que precisam ter horas mais ou menos certas para comer. A teoria de que o bebé “ainda nem fez a digestão da mamada anterior” é um mito. O bebé tem um estômago muito pequenino. Cinco minutos podem ser suficientes para ficar saciado. Geralmente têm “ligação direta”, ou seja sujam/molham logo a fralda, o que significativa que está tudo bem e que a digestão está a ser feita.
Toda a gente usa ou tentou usar chucha nos bebés. Muitas vezes ainda na maternidade, mas a chucha não deve ser usada antes da amamentação estar consolidada, ou seja antes das seis semanas. Qual o efeito da chucha? O bebé tem fome e começa com sinais de prontidão, ou seja começa a chuchar na mão ou à procura da mama e colocamos a chucha, o bebé não vai mamar. Logo está a “saltar” uma refeição. Pode ainda provocar problemas na arcada dentária ou mesmo problemas respiratórios. É um grande auxiliar? É! Mas deve ser usado com moderação e sempre com esta consciência.
E se o bebé chora? Vamos pegar ao colo. Nenhum bebé fica mal habituado por estar ao colo. Ele esteve nove meses na barriga da mãe, junto a si, a ouvir os seus batimentos cardíacos, a sentir o seu respirar. Porque motivo agora que está cá fora, não pode estar junto à mãe? É a melhor forma de o acalmar. Pode usar um sling para esse efeito.
Amamentar é uma tarefa árdua. Nos primeiros tempos e principalmente para as mães de primeira viagem é muito fácil desistir. É muito fácil a mama ingurgitar e na maternidade ninguém explicou à mãe como extrair leite, mesmo manualmente. Ninguém explicou que um saco de água quente ou uma massagem no banho pode resolver o ingurgitamento e problemas mais graves podem levar ao desmame. A facilidade com que se acede ao leite artificial também não abona a favor da amamentação. Mas atenção, se uma mulher decide dar leite artificial isso não quer dizer que não pensa dar o melhor ao seu filho. A ciência já evoluiu bastante e o leite artificial tem melhorado. O leite materno é APENAS MELHOR.
Resumindo, é muito importante uma rede de suporte às mães. É importante ajudá-las nas dificuldades que possam surgir durante a amamentação. Aliviá-las de tarefas domésticas para que possam dedicar-se ao bebé. Ajudar com os outros filhos que possam existir. Cuidar do bebé durante alguns períodos para que a mãe possa cuidar de si. Não é pecado querer sair uma hora para conversar com as amigas, ou dormir uma sesta. Vamos promover o aleitamento materno.

Texto escrito originalmente para o jornal MedioTejo.net

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